sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Paris, sexo e tragédia - o amor revisitado


O que esperar de um filme francês moderno, que retrata jovens parisienses e suas relações amorosas e sexuais, novo trabalho do diretor Christophe Honoré, que conta com Louis Garrel no elenco e é um...musical?

Muitas pessoas não gostam de musicais, reclamando da total falta de naturalidade e qualidade com que os atores interpretam as músicas. Mas esse não é o caso de Canções de Amor, título sugestivo para um filme que discute relações homossexuais, bissexuais, relacionamentos abertos, a perda de alguém que se ama e todo o processo de recuperação.

Um filme sobre o amor que é dividido em três partes: a partida, a ausência e o regresso. O jornalista Ismael (Louis Garrel) é namorado de Julie (Ludivine Sagnier) e os dois começam a se relacionar com Alice (Clothilde Hesme), colega de trabalho de Ismael, formando um difícil triângulo amoroso, onde a única personagem a parecer bem resolvida e não tão apaixonada é Alice. Ismael e Julie brigam constantemente e têm ataques de ciúmes. Quando os três vão para a cama, percebe-se que o móvel é pequeno demais para todos eles e o quanto se provocam entre si. Mas a morte repentina de Julie acaba com o relacionamento dos três. Ismael e Alice já não continuam juntos e cada um parte para a busca de um novo companheiro. A perda de sua namorada é responsável pelos três “capítulos” do filme, que representam a fase em que Ismael se encontra no sentido de superar a morte de Julie.

Ao sair da sala de cinema, não se tem a impressão de ter assistido a “um musical”, mas sim a um drama com uma pitada a mais de sentimento, romance e sexo. As músicas são extensões dos diálogos nas cenas e é por isso que soam muito naturais. As letras das canções têm tudo a ver com o que os personagens estavam dizendo em cena e a interpretação musical e vocal não é alterada, forçada. Não se tem a quebra da cena convencional para um número que parece ter saído da Broadway.

O espectador acaba mergulhando na música com o personagem, já que, toda vez que alguém canta no filme, é como um suspiro, uma demonstração do sentimento que o personagem experimenta naquele momento. A canção, aqui, é extremamente pessoal e uma forma direta de expressão.
De forma geral, o filme traz desde ménage-a-trois a sexo gay. As cenas, no entanto, são profundamente delicadas e romantizadas. Mesmo assim, ainda choca boa parte da platéia.
O engraçado é que Chansons D´amour faz cair por terra todo o convencionalismo, todos os padrões de amor e relacionamento como os conhecemos e, de qualquer forma, acabamos torcendo por algum personagem, da mesma forma como espectadores de novelas torcem para que o mocinho e a mocinha fiquem juntos no final e sejam felizes para sempre. Mas Honoré destrói o estereótipo do casal perfeito, destrói o mocinho e a mocinha, coloca na mesma cama o mocinho e duas mocinhas, imperfeitos, humanizados e, como se não bastasse, para terminar junta dois mocinhos no final feliz!

Mas ao mesmo tempo constrói o amor de novo, dessa vez admitindo homossexualismos, só que ainda em casal. Isso porque a relação a três já tinha enfraquecido o romance entre Julie e Ismael, Alice se sente sozinha em um show onde o casal não se desgruda e procura outro companheiro e, principalmente, com a tentativa de Ismael de superar a morte de Julie, onde ele tenta esquecer suas mágoas se relacionando com pessoas diferentes e certa promiscuidade, demonstrando que, na verdade, não consegue ficar sozinho. Ismael só se recupera ao encontrar um jovem rapaz, que tenta persistentemente conquistá-lo.

É um retrato do amor moderno, sem falsos moralismos ou julgamentos. Trata-se de uma discussão sobre o que é amor, as formas em que ele se dá, como é demonstrado, como é feito. Questiona o por quê de a sociedade ainda se chocar e não aceitar a diversidade sexual, o por quê de mantermos os mesmos ideais e padrões para os relacionamentos. E defende a idéia de que o amor move o mundo. Tudo gira em torno desse sentimento, o mais belo e necessário de todos, como já diziam os Beatles em All you need is Love.